Tarantino desaconselha cursos de roteiro e direção

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA, EM CANNES

Quentin Tarantino aproveitou sua passagem pelo Festival de Cannes, ontem, para desfazer alguns mitos. Um deles é o de que adquiriu sua cultura cinematográfica trabalhando em uma loja de vídeo. "Essa história ganhou uma proporção inesperada. Fui contratado porque entendia de cinema!", corrigiu o diretor americano.
Bem antes de organizar o acervo da loja, Tarantino já devorava os filmes de seus diretores favoritos na televisão: "Toda semana, lia o guia da TV de cabo a rabo marcando os filmes que iria gravar. Vi 80% da obra de Howard Hawks na TV".
Freqüentador assíduo de Cannes, Tarantino ministrou La Leçon du Cinéma (a aula de cinema). No ano passado, quando o "professor" foi Martin Scorsese, Tarantino estava na platéia. A aula consistiu em uma longa entrevista conduzida pelo crítico Michel Ciment em que Tarantino comentou -da forma vívida que lhe é típica, entremeada de muitos "fucks" e "shits"- trechos de "Cães de Aluguel", "Pulp Fiction - Tempo de Violência", "Jackie Brown", "Kill Bill" e "À Prova de Morte" (quatro foram exibidos em Cannes; "Pulp Fiction" ganhou a Palma de Ouro).
Para os que sonham fazer cinema, desaconselhou cursos de roteiro e direção: "Pegue suas economias e faça um filme. Por pior que fique, você vai aprender alguma coisa".
Em quase duas horas, Tarantino reforçou sua paixão pelo cinema de gênero e pelas obras de Sergio Leone, Martin Scorsese, Samuel Fuller, Robert Aldrich, Mario Bava, George A. Romero e Dario Argento. Mas Brian De Palma mereceu um carinho especial: "Esse era um rock star para mim", disse, dando-lhe créditos para as duas seqüências de "Cães de Aluguel" apresentadas: os movimentos circulares que abrem o filme e a cena seguinte, em que Harvey Keitel cuida de Tim Roth, calcada em "Pecados de Guerra".
Mas se há um gênero que poderia comportar sua obra, conta ele, é a comédia: "Acho que se há algo de novo que tenho feito, é forjar um novo tipo de comédia. Quero buscar uma forma de rir de algo que nunca rimos antes. Existe algo de visceral aí, uma espécie de cumplicidade perturbadora com o público".

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Vender vender vender ...Tecnologias ?

A aposentadoria dos mitos do rádio

A linguagem das imagens