Você está preparado para aprender – e se reinventar – até o último dia da sua vida?





O americano Alvin Toffler, morto em 2016, é conhecido como um dos maiores teóricos do futuro. Uma escolha de carreira ingrata, dada a quantidade de vezes em que o futuro teima em nos enganar. Mas ao longo de sua história longeva, Tofler provou muitas vezes que, de fato, conseguia ver longe. Uma de suas citações mais famosas diz o seguinte:
“Os analfabetos do século 21 não serão aqueles que não sabem ler e escrever, mas aqueles que não conseguirão aprender, desaprender e reaprender.”
Durante quase toda a era industrial, alguns anos de estudo e um diploma de graduação na parede significaram o visto de entrada em um emprego bem remunerado e estável. Segundo um estudo do New York Federal Reserve, entre 1982 e 2001, o salário médio dos trabalhadores americanos com ensino superior subiu 31%, enquanto a remuneração daqueles que tinham apenas o ensino médio em seus currículos ficou estagnada. Nos 12 anos seguintes, porém, os ganhos dos profissionais graduados pararam de crescer. Crises econômicas globais ocorridas nesse período contribuíram para que isso ocorresse, é claro. Mas o avanço vertiginoso da tecnologia e o advento da Economia Digital foram preponderantes para que um sinal de alerta surgisse na frente de quem estivesse disposto a ver: a estabilidade chegara ao fim. E os tempos em que o processo de aprendizado tinha começo, meio e fim, também.
O desenvolvimento tecnológico gerou um processo permanente de destruição criadora. Vivemos, hoje, em um mundo no qual a capacidade de aprender, desaprender e reaprender – o tempo todo – definirá o que é relevância econômica e sucesso profissional. Sejam, portanto, bem-vindos à era do life-long learning – tempos que exigirão que desenvolvamos novas habilidades e competências até o último dia de nossas vidas profissionais. Vidas e carreiras, aliás, que serão cada vez mais longas, à medida que, graças ao progresso da biotecnologia, seres humanos centenários deixem de ser exceções para se tornarem regras.
Aprender de forma contínua provavelmente será a mais potente vacina para a dizimação de empregos que o desenvolvimento acelerado da Inteligência Artificial deverá provocar nas próximas décadas. Um estudo feito em 2017 pela McKinsey, uma das maiores consultorias de estratégia no mundo, mostra que cerca de 50% das atividades existentes estão ameaçadas por processos automatizados. Muitas das profissões existentes hoje não farão sentido num futuro próximo. Outras tantas surgirão. Um dos mais célebres futuristas da nova geração, o israelense Yuval Noah Harari, autor dos best-sellers Sapiens e Homo Deus, prevê que nossos filhos terão de se reinventar profissionalmente a cada dez anos – numa estimativa conservadora. Trata-se de uma dinâmica alucinante, jamais vista ou experimentada na história.
Vamos ter de voltar à academia frequentemente, obter novas capacidades que hoje podem até parecer desconectadas do nosso dia a dia nas empresas ou nos negócios e criar continuamente círculos de relacionamento com profissionais com experiências, visões de mundo, ideias e crenças diferentes das nossas.
Nunca foi tão importante – para qualquer tipo de profissional – desenvolver as chamadas soft skills ou habilidades fundamentais. Numa era que promete contar com a onipresença de máquinas inteligentes, capazes de cruzar bilhões de dados e conduzir certas operações de forma muito mais precisa que os humanos, a demanda do mercado se voltará para a criatividade, a capacidade de resolver problemas e a empatia. Saber atuar em grandes redes, de forma colaborativa e flexível, e distribuir tarefas eficientemente já é um diferencial. Será, em pouco tempo, determinante para o sucesso profissional. A criatividade estará para o mundo do trabalho como o drible está para o futebol.
Como se dará esse aprendizado constante?
Muita gente começa a colocar em xeque o papel das instituições de ensino. Não há dúvida de que todas elas – inclusive a ESPM – estão sendo desafiadas a se reinventar continuamente. A ESPM começou como uma escola de propaganda e publicidade e teve o enorme mérito de formar alguns dos profissionais mais talentosos do mundo e de colocar a publicidade brasileira no topo da produção global. Hoje, somos uma escola de negócios que preserva a excelência como o primeiro entre seus valores e que forma de jornalistas a profissionais de moda, de executivos de relações institucionais corporativas a cientistas de consumo, de administradores a designers, de gamers a especialistas em dados.
A tecnologia já é e será cada vez mais uma aliada da educação. Mas ela, sozinha, me parece insuficiente.
Chegar ao conhecimento que importa e que fará a diferença é uma tarefa individual muito mais complicada do que parece. A internet está abarrotada de sabedoria e de baboseira. Separar uma da outra será cada vez mais um desafio. Quanto tempo um profissional qualificado tem para ser curador de si próprio? As empresas, por seu lado, não nascem e vivem com o propósito de formar e reinventar pessoas. Isso fica particularmente claro em tempos de crise. Em seu relatório de 2015, o America’s Council of Economic Advisers, conselho de assuntos econômicos dos Estados Unidos, mostrou que, entre 1996 e 2008, os investimentos das empresas em formação profissional caíram. Na Grã-Bretanha, a média de horas-aula dadas pelas companhias a seus funcionários não chegou a uma hora por semana. No Brasil, em tempos de recessão – que não foram raros nas últimas décadas – as verbas para formação de executivos e funcionários estiveram, lamentavelmente, entre as primeiras a ser cortadas.
Claro que os programas internos de treinamento e de educação executiva são essenciais. E continuam a ser muito valorizados pelos profissionais mais talentosos. Mas, hoje, tão importante quanto conhecer bem a empresa, seu negócio e seu setor, é saber o que vem sendo feito e pensado fora dela. Assim como as pessoas, cada vez mais, as companhias – gigantes, médias ou pequenas – trabalharão dentro de uma rede colaborativa. Serão, ao mesmo tempo, concorrentes e parceiras, fornecedoras e clientes.
Por isso, o networking entre pessoas de perfis, formações, experiências, mercados e visões diferentes será cada vez mais necessário. A academia – com suas muitas décadas de produção de conhecimento, sua variedade de especialistas e um grupo de alunos diverso – é hoje e será por muito tempo um dos mais privilegiados centros de networking qualificado. Frequentar a academia – universidade ou instituições de excelência como a ESPM – é sair das bolhas (a corporativa, a das redes sociais, a dos simpatizantes desta ou daquela corrente de pensamento).
E ter a capacidade de sair o tempo todo das bolhas de certeza que se formam à nossa volta será, como disse Toffler, a diferença entre o indivíduo autônomo e aquele que será conduzido pela dinâmica deste novo mundo.
Você está preparado?

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