A aposentadoria dos mitos do rádio


LAURA MATTOS
da Folha de S.Paulo


A pergunta é: o que está por trás da notícia da aposentadoria do radialista carioca Haroldo de Andrade, que, aos 69 anos, 54 de rádio, 42 de Globo AM, pendurou o microfone?
Certamente muito mais do que suas questões pessoais. O fim de seu programa diário e histórico na Globo marca uma tendência no rádio: a destruição dos mitos.
O dial sempre esteve ligado a nomes fortes regionalmente. Locutores mais importantes do que o título do programa, a identidade da programação, a emissora.
São todos, de certa forma, "discípulos" de Haroldo de Andrade. Todos, de certa forma, estão se aposentando com ele.
O setor começa a se conscientizar de que as rádios não podem mais ter como alicerce único os "Elis Correas" e "Paulos Lopes", só para citar mitos de São Paulo.
Em processo cada vez mais forte de profissionalização, de formação de rede, como sustentar uma emissora apenas com grandes nomes de identidade regional?
A Globo já sabe disso e outras começam a perceber que é importante fortalecer os programas, o perfil da programação, para buscar os melhores nomes de cada região. Mas a procura agora é por profissionais que saibam se adaptar aos formatos das emissoras.
Assim, o mundo não vai acabar quando o locutor querido dos ouvintes receber outra proposta e for para a concorrência. E o anunciante terá mais estímulo para topar os pacotes nacionais, já que saberá que lá na afiliada do interior do Acre há um radialista inserido em um projeto de rede.
Os publicitários, que adoram uma novidade, criaram uma palavra para a tendência: "glocal". É a GLObalização da programação que mantém a identidade loCAL.
Na televisão, a MTV é um bom exemplo. Trata-se de uma rede mundial, com formato de programação semelhante dos Estados Unidos à Ásia, que consegue ter uma forte identidade nacional.
É claro que o rádio é bem mais íntimo do ouvinte do que a TV do telespectador. E é claro que favorece uma relação profunda com a voz do locutor. Isso provavelmente é eterno, faz parte da natureza do meio. Mas na era da entrada do capital estrangeiro na mídia, da concorrência quase "armada", o papel de herói certamente sofrerá mudanças.
O GPR (Grupo dos Profissionais do Rádio, www.gradio.com.br) abre na próxima segunda-feira inscrições para o 4º Prêmio Criatividade em Rádio. A entidade escolherá os anúncios mais criativos do dial, para incentivar o investimento do mercado publicitário em AMs e FMs.

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